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Espécies exóticas invasoras: conheça para não plantar

Em um país como o Brasil, que detém uma das maiores biodiversidades do mundo, não falta opções de espécies de árvores nativas indicadas para a arborização urbana, como já mencionei em posts anteriores e na página “Faça sua parte”. Apesar disso, o nosso hábito ancestral de carregar conosco espécies que conhecemos para novos lugares explorados, intercambiando muitas delas e até estabelecendo redes tradicionais de reciprocidade, culminaram nessa miscelânea de espécies nos ambientes alterados pelo homem, rurais ou urbanos, se estendendo até em áreas de florestas que muitos julgam erroneamente como sendo virgens ou intocadas. Consequência disso, são inúmeros os exemplos malsucedidos de introdução de espécies exóticas, muitas vezes resultando em competição com nossas nativas e até extinguindo algumas. Lembrando que espécies exóticas são aquelas presentes fora da sua área natural de distribuição presente ou passada.

Em São Paulo, a maior parte das árvores presentes nas nossas calçadas e áreas verdes é constituída por espécies exóticas, algumas consideradas invasoras devido ao seu comportamento agressivo e competitivo que não raro resulta na eliminação de espécies nativas. Prova disso é que a invasão de espécies exóticas em um determinado ambiente é a 2ª maior causa da perda de biodiversidade no planeta. Não obstante, as espécies invasoras produzem mudanças nas cadeias tróficas, na estrutura, nos processos evolutivos, na dominância, na distribuição da biomassa e nas funções de um dado ecossistema, provocando também alterações nas propriedades ecológicas do solo e na ciclagem de nutrientes. Por fim, essas espécies podem produzir híbridos ao cruzar com nativas e eliminar genótipos originais, ocupando o espaço de espécies nativas e levando-as a diminuir em abundância e extensão geográfica, aumentando os riscos de extinção de populações locais.

Na tentativa de reverter esse processo, a Secretaria do Verde e Meio Ambiente do município de São Paulo estabeleceu em 2009 a Portaria 154/09, disciplinando medidas visando à erradicação e ao controle de espécies vegetais exóticas invasoras. Assim, instituiu também a Lista de Espécies Vegetais Exóticas Invasoras do Município de São Paulo, constituída até o momento pelas seguintes espécies arbóreas:

Acácia-Negra – Acacia mearnsii
Alfeneiro – Ligustrum japonicum, Ligustrum lucidum, Ligustrum vulgare
Eucalipto – Eucalyptus robusta
Falsa-seringueira – Ficus elastica
Figueira – Ficus benjamina
Leucena – Leucaena leucocephala
Palmeira Seafórtia – Archontophoenix cunninghamiana
Pinheiros do gênero Pinus – Pinus caribaea, Pinus elliottii, Pinus taeda

Todas essas espécies listadas são bastante comuns em São Paulo e em muitas cidades do país, mas gostaria de destacar a presença da figueira asiática Ficus benjamina, certamente uma das 3 espécies mais comuns nas nossas calçadas. A principal causa disso decorre do hábito de muitas pessoas plantarem no chão aquele arbusto que vem crescendo há anos no vaso e, já maiorzinho, “merece” ganhar vida livre no solo. Prova disso é que Ficus benjamina é a árvore mais fácil de ser encontrada em lojas de plantas e supermercados, tanto a variedade de folhas verdes como a de folhas rajadas de verde e branco (variegata). Muitos também plantam propositalmente o Ficus na calçada para que tenha aquele aspecto de “cotonete”, uma vez que a espécie tolera bem podas. Eu particularmente acho de extremo mal gosto uma árvore podada com formas geométricas, sem dizer que isso maltrata a árvore, tira o aspecto natural da sua copa e ainda diminui os serviços prestados por árvores com copa larga, como sombreamento e filtragem de poluentes. Além disso, trata-se de uma espécie de grande porte, com troncos adultos bastante largos e raízes agressivas que comprometem tubulações subterrâneas e equipamentos públicos, como muros, ruas e calçadas. Enfim, é mais uma espécie exótica invasora que deve, no máximo, ser mantida apenas em vasos. Chega de plantá-las equivocadamente no chão.

Os pinheiros do gênero Pinus passam por processo semelhante, afinal, quantas pessoas já não plantaram no chão o pinheirinho que comprou para o Natal e depois ficou esquecido no quintal? Mais um erro! Os pinheiros são originários do Hemisfério Norte e suas folhas possuem efeito alelopático, ou seja, quando caem eliminam substâncias no solo que inibem o desenvolvimento de outras espécies de plantas, por isso é comum vermos bosques de pinheiros sem sub-bosque. Aqui no Brasil, os pinheiros são amplamente cultivados nas zonas rurais para a produção de madeira e celulose. Nas cidades, são comuns em quintais e áreas verdes.

O eucalipto também é cultivado para a produção de celulose, mas também é presente em muitas áreas verdes e parques da cidade. No Parque do Ibirapuera, por exemplo, os eucaliptos foram plantados no século passado para drenar o solo, uma vez que a região era formada por áreas alagadiças e brejosas. As espécies do gênero Eucalyptus são originárias da Austrália, possuindo porte bastante avantajado e com grande demanda de água. Não que o eucalipto consuma mais água que outras espécies, mas o fato é que sua fama de beberrão que seca o solo contribuiu para sua dispersão no processo de ocupação e transformação do ambiente urbano.

A falsa-seringueria é uma árvore enorme, originária da Ásia Tropical e comum em calçadas e áreas verdes de São Paulo. Como foi plantada sem planejamento no século passado, hoje podemos ver velhos exemplares e verificar o quão imprópria é a espécie no ambiente urbano. Seus troncos possuem diâmetros enormes que obstruem calçadas, além de raízes agressivas que comprometem tubulações subterrâneas, meios-fios, ruas, muros e calçadas. Enfim, um bom exemplo de espécie que não devemos plantar.

A palmeira-seafórtia é originária da Austrália e muito abundante em São Paulo. Parte delas sequer foi plantada, simplesmente são fruto do alto poder de dispersão e colonização da espécie, que se desenvolve até em áreas verdes não manejadas, competindo com palmeiras nativas e eliminando-as. No bosque da biologia, no campus da USP no Butantã, existe um programa de pesquisa e manejo da palmeira-seafórtia visando conhecer a ecologia da espécie e adotar medidas de controlar suas populações.

Já o alfeneiro (Ligustrum japonicum) é uma árvore originária do Japão e uma das espécies mais comuns nas calçadas de São Paulo, consequência da fama que a árvore ganhou como espécie ideal para ser utilizada na arborização urbana. Seus frutos são dispersos por aves, contribuindo para que a espécie colonize áreas verdes e ocupe o espaço de nativas. Mais um engano que se espalhou pela cidade…

Em suma, essa lista é bastante enxuta e deverá ser constantemente revisada e ampliada, dado o grande número de espécies exóticas que ameaçam a existência das nativas, principalmente no ambiente urbano. De qualquer forma, é sempre bom que o cidadão pesquise a origem e características fenotípicas e ecológicas das espécies antes de plantá-las. Exemplos de plantios inconsequentes e os resultados catastróficos disso são abundantes.
O famoso Ficus benjamina encontrado a venda até em supermercados. Seu tronco pode ser reto ou retorcido, como esse da foto.


O mesmo Ficus benjamina pode apresentar variedades com folhas verdes rajadas de branco (variegata), como ilustrado na foto.


Ficus benjamina plantado em uma calçada, com a horrenda poda que deixa a árvore com aspecto alienígena.


Um exemplar adulto de Ficus benjamina em uma calçada. Suas raízes quebram calçadas, elevam o asfalto de ruas e atingem tubulações.


Exemplo de Pinus plantado em quintal. O pinheirinho de Natal cresce muito e se dispersa facilmente.


Um jovem eucalipto plantado em um canteiro da Marginal Pinheiros. Essa espécie australiana é muito abundante em áreas verdes de São Paulo.


Falsa-seringueira (Ficus elastica) plantada em uma calçada de São Paulo. Essa árvore enorme é um exemplo de espécie absolutamente inadequada para a arborização urbana.


Vista aproximada da falsa-seringueira para ilustrar o que acontece com o "passeio livre" da calçada. Sem dizer que muro, calçada e rua estão em parte comprometidos.


Palmeira seafortia, espécie australiana de fácil dispersão, coloniza áreas verdes e compete com nossas nativas.


Alfeneiro, espécie originária do Japão amplamente utilizada na arborização urbana de São Paulo e de muitas cidades brasileiras.


Detalhe do fruto do alfeneiro, no inverno as árvores se enchem de cachos com esses pequenos frutos arroxeados.

Fonte:-http://projetopincel.wordpress.com/2011/09/16/especies-exoticas-invasoras-conheca-para-nao-plantar/


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